quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

PRECISAMOS FALAR SOBRE REBECCA PEARSON




Há algo de bonito em conseguir enxergar os detalhes, as partes, na maioria das vezes, esquecidas aos olhos. 
Eu sempre priorizei por perceber a fundamentação das coisas, o que carrega tudo, o que alimenta e define, mas nem sempre é reconhecido por isso.
This is Us é uma série da NBC que anda fazendo muito burburinho pela sua excelência narrativa, técnica e, sobretudo emocional: é daquelas de arrancar lágrimas de quem assiste.
Mas é preciso dizer que essas lágrimas não escorrem como em um experimento behaviorista: mexendo aqui para ter como resposta isto aqui. Não. Nós sabemos o porquê nos emocionamos ao assistir a série. Aqui a ênfase está no cerne das nossas mais profundas emoções e definições como humanos: nossa família e quem nós somos e nos tornamos com essa intensa relação sanguínea, dolorosa, feliz e triste.

E em uma narrativa inteligente que mistura linhas temporais, acompanhamos a história da família Pearson na figura dos pais Jack e Rebecca e dos filhos Randall, Kevin e Kate. Cada personagem carrega sua própria história que vai sendo moldada pela complexidade das relações familiares, sobretudo em suas infâncias e adolescências como sementes para a vida adulta.
Randall é o rapaz adotado que, por ser negro, vê-se intensamente em uma profunda busca por quem é e por sua origem. Por esta razão é rodeado de amor pelos seus pais, o que provoca fendas em Kevin, filho mais extrovertido, exteriormente o mais "querido" de todos ao redor, mas que na verdade vê-se como em segundo plano no amor de seus pais, o que provoca vícios e uma autopercepção de nunca ser suficiente pra ser amado. Aliado a eles está Kate, única garota dos três filhos, que encontra na comida o refúgio para sua baixo auto estima, culpa e, por esta razão, desenvolve uma relação distante e difícil com sua mãe, mulher perfeita esteticamente que sempre a faz se sentir inferior.

Se eu perguntar pra qualquer pessoa que assiste This is Us o que mais chama a atenção na série, possivelmente, em muitos casos, um nome será citado: Jack Pearson.
Jack não é apenas o pai da família, mas torna-se o centro de quase todos os conflitos e elo de união entre todos. Jack é o homem que se doa, se sacrifica e possui um enternecimento nos olhos e um coração gigante ao ponto de fazer qualquer um se apaixonar ou vê em seu exemplo de humano uma maneira de ser melhor.

Jack é o coração da família Pearson.


Com razão todos os louvores são dados a ele, mas dessa vez eu quero exaltar uma figura por vezes esquecida mas tão fundamental quanto Jack nessa história: Rebecca Pearson.

Rebecca foi a mãe que ousou colocar os filhos com os pés no chão; prepará-los para a dureza da vida e por vezes foi vista como a vilã em suas vidas.
Abandonou seus sonhos em ser uma cantora e mulher independente para doar sua vida inteira à disposição da criação dos filhos. Por esta razão sacrificou o ideal de uma mulher nos anos 80, com o coração explodindo de desejo pela liberdade das convenções sociais, desejando ser livre dos estereótipos de mãe, esposa e dona de casa para, por amor, enfim, aceitar os mesmos estereótipos que lutou contra em nome dos filhos e marido.


Apesar disso, era sob os ombros de Rebecca que as mágoas, os ressentimentos e conflitos dos filhos caiam. Jack acalmava a tempestade, Rebecca morava no olho do furacão.
Por muitas vezes vista como uma base, uma plataforma de sustento, e de alguma forma, não reclamando disso, as cortinas que se abrem para o show de amor da figura de Jack Pearson, Rebecca, de fato, não é vista como o centro da história Pearson, mas definitivamente sem ela, nada aconteceria.

Errou feio por muitas vezes e por excesso de amor feriu seus filhos, causando dor em Randall ao não lhe falar sobre seu pai, sua origem; não dando tanta atenção à Kevin por pensar com muito orgulho que ele não precisaria de tanto amparo quanto os outros filhos, por já ser corajoso suficiente, e sendo passiva-agressiva com Kate, mesmo que não se dando conta disso.



É definitivamente mais lógico exaltar a figura de Jack Pearson, o pai perfeito, o marido amoroso, que chega ao fim do dia e recolhe os destroços causados pela intensa relação da família com abraços ternos e um desejo de fazer com que todos se sintam melhores. É mais lógico o preferir e admito ser bem mais compreensível.
Eu, por mais que tenha demorado a perceber, e por mais que também não fuja do encanto de Jack Pearson, coração da família, percebo e entendo Rebecca, na verdade, como centro fundamental da mensagem de This is Us: é na sua perfeita imperfeição amorosa, na sua humanidade falha, na sua intensidade palpável, crível e percebida, na complexidade de suas emoções e ações sendo uma mãe real, que eu encontro acalanto. Porque é pensando em tudo isso  que me dou conta que, sim, é possível ser real, ao ponto de nem ser idolatrado, e mesmo assim, ainda ser tão extraordinário quanto Rebecca Pearson. 

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