quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Da esquerda para direita: Rafael (guitarrista), Pablo (guitarrista e vocalista) e Diego (baterista)

Nooma, um nomem aparentemente incomum, vem do grego pneuma que significa “sopro de vida”. Essa explicação foi feita pelo guitarrista Rafael, integrante da banda que recebe o mesmo nome, para o blog Rock for Jesus (você pode conferir aqui essa entrevista). Curiosamente é essa a sensação que se tem após ouvir o som da banda carioca formada por Pablo Teixeira (guitarra e vocal), Rafael (Guitarra) e Diego(bateria), especificamente do primeiro trabalho do trio: “Nooma” (2015), um EP produzido pelo Duda Andrade, contendo cinco faixas. A sensação de vitalidade e injeção de vida é carregada não apenas nas letras que versam sobre devoção e adoração, com estruturas essenciais de salmos modernos, mas também pela atmosfera etérea de post-rock em quase todas as músicas.
Com influências claras em timbres de guitarra de bandas como Explosions in the Sky, Nooma nos apresenta um EP coeso que propõe uma linguagem e lírica de fuga do que é palpável e físico para um universo de ideal, o metafísico, mas com uma clara evidência de ainda estar com os pés no chão. É esperança, é alívio, mas antes de tudo é resgate do céu para a terra, a partir das angústias terrenas.
“Dos montes”, inicia esse pedido de socorro. É a partir da angústia do salmista moderno, que evoca o salmo 121, que a viagem do ep começa. Apesar dos conflitos internos de não haver respostas no aqui, os arranjos delicados e a introdução mais ou menos extensa de calmaria, preparam o ouvinte para a fé de saber que o clamor será ouvido. Da fé nasce a esperança;da esperança nasce o coração grato, pronto para agradecer apesar de não ver as respostas concretas. E isso é a adoração expressa nas estrofes: “eu elevo os meus olhos/ para os montes/ de onde me virá / o socorro / o meu socorro vem/ do senhor / aleluia, aleluia” e na bonita certeza que é o ápice da canção em grito e progressão sonora: “na minha angústia/ eu clamo ao senhor / e Ele me ouve”.
Capa do EP autointitulado (2015).

Em seguida temos a belíssima “Onde estou”, com uma linda e longa introdução de cordas e violão, seguida de bateria e riffs de guitarras. Aqui a interpretação e efeitos de reverb na voz de Pablo, encarnam o cerne da música que é o conflito entre estar e estar. Enquanto enfrenta os dias maus, a voz lírica, apesar das inconstâncias dos dias, não abala a fé, por entender que seu relacionamento com Deus não se baseia em circunstâncias, mas no lugar onde se está, em coração e alma. Os momentos finais em que a frase “eu estou em Ti” é repetida diversas vezes, traz não apenas a certeza de que as coisas terminarão bem, pela companhia dEle, mas a decisão de mesmo em angústia e inconstância, querer estar nEle.
Geralmente uma outro é continuação da canção anterior, e “Outro”, terceira faixa,  surge como essa continuidade de “Onde estou”, mas diferente desta, a canção se contrapõe ao sufoco proposital, apesar de esperançoso e insere um ambiente de alívio a partir de uma instrumentação crescente e melodicamente etérea, como se a fé militante da canção anterior tivesse produzido o estado em que se propunha: a paz de estar em Deus.


Com marcações de bateria e vocais sobrepostos, juntamente com os riffs oitavados de guitarras, “Mais alto”, quarta faixa do ep, ao contrário das outras, não constrói um universo sonoro de fuga esperançosa, mas algo perto do grito de guerra, por ter como base acordes menores. Apesar disso, liricamente, não há menção aos momentos difíceis ou a qualquer obstáculo terreno, tudo é centrado na conversa do ideal, o plano superior. O caminho percorrido até aqui faz dessa música, a começar pelo título, um lugar diferente das outras por já estar neste lugar, que não é físico, mas espiritual. Um lugar mais alto. Este lugar é o da certeza do amor constante e insistente de Deus, que faz com que todas os outros detalhes sejam dissipados.
Iniciando com parte da estrofe (“aleluia, aleluia...”) da primeira música (“Dos montes”), a última música, “Amanheceu”, instrumental, indica o estado de completa paz espiritual como destino de toda a jornada construída durante a narrativa do EP. Aqui os singelos acordes e efeitos reverb de guitarra, juntamente com todo clima causado pelos pratos sutis do baterista Diego, nos transportam para este lugar de paz nos primeiros minutos da canção para logo após explodir sonoramente em uma sequência de acordes e ritmo que remetem a um frenesi de alegria que nasce da esperança: sensação de que realmente o sol nasceu e a manhã chegou. A canção termina em fade out, indicando que imageticamente ainda estará soando... Eterna.
O lugar de paz, que aqui pode-se dizer a eternidade, depois da longa noite que é viver neste mundo, é a busca, a luta e, por fim, a conquista de toda a jornada lírica do EP, e é nessa faixa que o nome “Nooma” ganha contornos grandiosos que respondem a questões centrais: o propósito da banda e o propósito do EP. Se o sopro de vida do Éden nos formou e fincou no nosso ser a existência, continuará sendo este fio que nos prende à Eternidade o motivo de nossa existência e a garantia que um dia o alívio, o bálsamo e a paz espiritual serão pra sempre.


Nota: ***** (ótimo!)

Recomendadas: "Dos montes", "Outro" e "Amanheceu". 

Ficha técnica:

Produção: Duda Andrade & Nooma

Mixagem e masterização: Bernardo Fragale

Baterias: Diego Vicente

Guitarras: Rafael Loureiro, Pablo Teixeira

Vocais: Pablo Teixeira 


Ouça você mesmo: